Entrevista com Monica Stahel

Autora do livro: 'Um saci no meu quintal' - adotado no 6º ano em 2010












Biblioteca: Como nasceu a ideia de escrever o livro Um saci no meu quintal: mitos brasileiros?

Monica Stahel: Num certo momento, a WMF Martins Fontes, editora em que trabalho, quis divulgar e voltar a atenção para a cultura popular brasileira, que é tão rica e tão pouco conhecida. Os editores me propuseram então fazer um livro sobre mitos brasileiros. Ao saber disso, uma amiga me disse, meio por acaso, que os pais dela, que são do interior, já tinham visto saci. Conversei com eles por telefone, cada um me contou sua história, e tive a ideia de ir além da pesquisa de livros: achei que seria interessante ouvir as pessoas que conheciam e conviviam com esses mitos desde crianças, na sua terra natal. Foi assim que surgiu a decisão de dividir cada capítulo do livro em três partes: uma história inventada por mim (Eu vi), um texto resumindo minhas pesquisas em livros (Eu li) e as histórias que ouvi de pessoas conhecidas (Eu ouvi). No fim, um pequeno texto conclui o capítulo (Será?).

Biblioteca: Você acredita ou já viu sacis?

Monica Stahel: Quando me fazem essa pergunta, eu sempre respondo com outra pergunta: “E você, acredita?” A crença é uma coisa muito pessoal, cada um tem a sua. Quando ouvimos contar alguma coisa estranha ou fabulosa, primeiro procuramos uma explicação nas ciências que conhecemos. Quando não encontramos, procuramos uma explicação nas nossas crenças. Por isso devemos respeitar e levar a sério as crenças dos outros, pois elas são a maneira que cada um tem de explicar as coisas da vida.

Biblioteca: Você nasceu em São Paulo e é formada em Ciências Sociais pela USP. Como e quando teve início o seu trabalho com literatura infantojuvenil?

Monica Stahel: Na verdade, meu trabalho principal não é o de escritora, mas o de tradutora. Desde pequena, meus pais sempre me contavam muitas histórias e me davam livros. Com isso, criei o hábito de ler e passei a escrever por lazer. Mais tarde, observando as brincadeiras das minhas filhas pequenas com os amigos da vizinhança, me inspirei para escrever um livro chamado Tem uma história nas cartas de Marisa. Depois disso não escrevi muitos outros, mas acho que tenho jeito para me comunicar com o público infantil e juvenil. Por isso também tenho traduzido muitos livros para crianças e jovens.

Biblioteca: Muitos pais e avós de hoje em dia, perderam o hábito de contar histórias. Você acredita que os brasileiros perderam essa cultura?

Monica Stahel: Eu acho que essa cultura sempre existiu em todos os povos. Ela acabou ficando meio esquecida por causa da televisão e de outros meios avançados de comunicação. Mas o prazer de ouvir uma história bem contada é diferente, assim como a televisão é diferente do cinema, que por sua vez é diferente do teatro. Uma coisa não elimina a outra. Depende de cada um de nós continuar se interessando por contar e ouvir histórias, sobretudo as histórias que não estão nos livros.

Biblioteca: O que você diria para as pessoas que leram ou lerão Um saci no meu quintal: mitos brasileiros?

Monica Stahel: Não importa se a gente acredita ou não nas histórias que estão neste livro. O importante é a gente saber observar a beleza e a riqueza de cada mito, é a gente pensar no que levou cada mito a ser criado, o que ele explica e ensina. E, mais do que tudo, importa cada um de nós saber respeitar a cultura e a crença das outras pessoas. Pessoas que vivem em circunstâncias diferentes das nossas necessariamente têm crenças diferentes das nossas e sabem coisas diferentes das coisas que nós sabemos. Não existe uma cultura ou uma crença melhor ou pior do que a outra. Existem culturas e crenças diferentes umas das outras.

Originalmente postada em  outubro de 2010