Entrevista com o escritor Paulo Rea

DE PSICÓLOGO A MARCHETEIRO: VALEU A PENA?

Paulo Rea nasceu em São Paulo, em 1967.
Formou-se em Psicologia, mas só atuou na área clínica por três anos,  porque surgiu a oportunidade de ser sócio de um escritório virtual, onde trabalhou durante sete anos. Segundo ele, o escritório virtual era uma espécie de hotel para empresas estrangeiras que vinham se instalar no Brasil e se "hospedavam” ali, enquanto não alugavam um espaço próprio ou contratavam funcionários. Foi nessa época que, para relaxar, assim meio descompromissadamente, resolveu fazer um curso de marcenaria. “Mas, imbuia vai, freijó vem, simplesmente não consegui parar mais. Tanto que, em 2000, saí do meu antigo trabalho para me dedicar exclusivamente às madeiras!”, diz ele. Perguntado sobre como a marchetaria¹ ganhou espaço na sua vida profissional, Paulo demonstra ter paixão pelo que faz: “Trabalhar com madeira é apaixonante porque não é um material fácil de se lidar. Cada tipo de madeira tem uma ‘personalidade’. Umas são mais macias, outras mais duras e densas. E cada árvore te dá uma prancha diferente, dentro do mesmo tipo. Um nó onde tinha um galho. Um desenho que revela a seca de um determinado ano. Resumindo, cada uma tem uma história diferente para contar e para que o trabalho com elas fique bom, é preciso saber conversar”. E, conversa vai, conversa vem, depois de dez anos, ele decidiu “materializar” um desses papos e contar a história de um jacarandá apressado², o belo e premiado Já Já, cujas ilustrações são em marchetaria. Além de ter as editoras como clientes, para quem elabora ilustrações, a marchetaria é também a técnica que o artista usa para fazer o revestimento de peças (únicas) de mobiliário, que ele chama de “conceituais”: “Unidas, elas contam histórias também. Trato de um assunto específico e as peças (sempre agrupadas de seis em seis) ajudam a "ilustrar". Assim, fiz uma série de "conceituais" que se chama "Temporárias". Outra que se chama "Ao Cubo".
Pergunto se a profissão lhe dá retorno financeiro e ele responde prontamente que, além de prazerosa, a atividade “permite viver com relativo conforto, então me sinto recompensado!”

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¹ A arte de empregar madeiras incrustadas, embutidas ou aplicadas em peças de marcenaria, formando desenhos variados e verdadeiras obras de arte. 
² Já já – a história de uma árvore apressada. Editora Ática. Vencedor do Prêmio Jabuti 2010 na categoria Ilustração de livro Infanto-Infantil.



Postagem originalmente postada em março de 2011